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Angvstia prepara dois novos singles

Quarteto paulistano conta em primeira mão, para o Seguimos Fortes, o processo de gravação das músicas Sacrifício e Ltda.


Angvstia: Lucas Barbosa (guitarra e voz), Junior Braga (guitarra e voz), Emiliano Borges (bateria) e Dave Campelo (voz e baixo) | Foto: Jimmy Ferreira

Por Vinícius Vieira


Há um ano apenas após o lançamento do seu primeiro álbum Lacuna (2023), o quarteto paulistano de punk rock emocional, Angvstia, acaba de entrar em estúdio para gravar dois novos singles: Sacrifício e Ltda. As gravações ocorrem no Rock Together (SP), estúdio de propriedade de Tyello Silva (ex-Dance Of Days) que também assina a produção das duas músicas.


Gravar duas músicas novas, com um álbum ainda em divulgação, mostra toda a proatividade e constante produção do grupo que foi formado em São Paulo, no ano de 2020, durante uma das maiores crises sanitárias mundiais, a pandemia da Covid-19: “Desde o começo da banda, sentimos essa necessidade de estar em constante renovação, seja de ideias, seja de sonoridade. Cada lançamento reflete um momento da banda e nos faz ter mais maturidade para seguir produzindo e imprimindo ainda mais nossa identidade à proposta da banda”, revela Lucas Barbosa, guitarrista e backing vocal da banda, que ainda conta com Dave Campelo (voz e baixo), Junior Braga (guitarra e vocal) e o onipresente Emiliano Borges (bateria), também conhecido por trabalhos com as célebres bandas de grindcore Rot e Arame.


O Angvstia carrega consigo a sonoridade do punk rock com o emotional hardcore dos anos 1990, de Samiam, Seaweed, Sunny Day Real Estate, Jawbreaker, Sense Field, Jets To Brazil, Farside e entre outros, em cima de letras políticas, pessoais, reflexivas e existenciais.

É sobre o processo de criação e gravação dos dois novos singles, além da repercussão do disco Lacuna e do show ao lado dos ídolos do No Fun At All e Ignite, realizado no ano passado em São Paulo, que o guitarrista Lucas Barbosa bateu esse papo exclusivo com o Seguimos Fortes e você confere agora.



Seguimos Fortes: Hoje o Angvstia está gravando duas músicas novas no Rock Together, pode adiantar do que se trata essas duas canções, em termos de composição, letras, temáticas abordadas, além dos títulos?


Lucas Barbosa: As duas músicas que estamos gravando são intituladas Sacrifício e Ltda. A primeira traz reflexões importantes sobre a exploração animal. É uma música bastante forte, pois o eu-lírico da canção é uma vaca indo para o abate, e fazendo questionamentos sobre quantos dias mais vai conseguir viver antes de ir parar no prato de alguém. O Dave, nosso baixista, vocalista e fundador da banda, é vegano há muitos anos e trouxe essa letra, que achamos extremamente pertinente, apesar de nem todos da banda serem vegetarianos/veganos.

 

A segunda música, Ltda., trata também de exploração, mas do trabalhador. No Brasil, quem não nasceu privilegiado amarga cargas horárias excessivas, acúmulo de funções, baixa remuneração, humilhações diárias vindas de algum burguês, entre outros "sapos" que temos que engolir diariamente se quisermos continuar tendo comida na mesa e um teto sobre a cabeça. 


São músicas que surgiram em momentos diferentes. Sacrifício foi concebida no ano passado, a partir de um riff trazido pelo Júnior (guitarra/backing vocal). Nos reunimos e começamos a trabalhar em cima dessa música, lapidando cada parte até chegar a um resultado que agradasse a todos. Quando a estrutura foi definida, gravamos a pré com guitarras, baixo, bateria e vozes, inserimos a canção nos shows e, a partir disso, decidimos que ela estava pronta para ser gravada. 


Ltda., por sua vez, surgiu de um riff que comecei a tocar despretensiosamente em casa. Estruturei, gravei o primeiro esqueleto da música e, a partir disso, fomos analisando o que combinava ou não, o que podia ser inserido ou retirado, e repetimos o processo, como em Sacrifício, mas ela foi executada algumas poucas vezes ao vivo. As letras de ambas partiram do Dave, que sempre tem bons escritos para qualquer ideia que a gente apresente. Normalmente, tudo acontece rapidamente, eu diria, porque costumamos nos debruçar nessas composições, até para diversificar o set mesmo. 



Então tratam-se de canções que já existiam durante a turnê do Lacuna? 


Normalmente, fazemos o caminho inverso: compomos, tocamos ao vivo e depois gravamos. É nossa forma de analisar se a música realmente funciona, se é legal de tocar, qual a energia passa ao vivo, etc. Apesar de já não serem segredo pra ninguém, acredito que muita gente que nos acompanha ainda não tenha ouvido a gente tocando elas ao vivo, então de certa forma será uma novidade. 


Logo que essas músicas foram compostas, decidimos que entraríamos em estúdio para gravá-las em algum momento. Ao longo dos anos, fomos tendo cada vez mais clareza sobre a nossa proposta, sobre qual tipo de sonoridade estávamos buscando, então gravar e colocar essas músicas no mundo é nossa forma de mostrar esse novo momento, de mais maturidade, de objetivos mais claros, de novas influências e reflexões. Posso dizer que estamos bastante animados com esse processo.



Como está o processo de gravação destes dois singles e como é trabalhar com Tyello Silva produtor?


Começamos a gravar há exatamente uma semana e, na primeira sessão, fizemos bateria e minhas guitarras. Ao longo das próximas semanas, o Dave vai colocar o baixo e, por fim, o Júnior vai adicionar as guitarras dele. Está sendo um processo bem leve e divertido pra gente. Nós mesmos estamos produzindo, mas desta vez estamos podendo contar com o Tyello, que se tornou um grande amigo e está nos apoiando nessa empreitada e sugeriu que gravássemos lá com ele. 


E é legal poder contar com a parceria de uma pessoa com tanta bagagem no underground. Ao longo de todo esse processo, ele tem trazido dicas importantes para que a gente consiga chegar ao melhor resultado possível. Definitivamente, é uma contribuição muito importante nesse trabalho. De modo geral, todos os processos da Angvstia são extremamente democráticos e a gente sempre conversa sobre o que está sendo feito. Sempre debatemos o que e como fazer, o que fica legal, o que não fica, o que precisa ou não ser refeito, o que cada um tá achando da sonoridade que está sendo construída, etc, e isso contribui bastante.


É um processo extremamente participativo, no qual todos estão presentes, opinando e observando para que a coisa flua da melhor forma possível. Felizmente, tem dado muito certo e, mesmo antes de finalizar esses trabalhos, já estamos super animados com eles. Para nós, é um dos momentos mais legais que estamos vivendo enquanto banda.



Confira um trecho da gravação de guitarra da música Ltda.



Qual a previsão de lançamento de Sacrifício e Ltda.?


Não temos uma previsão exata, mas posso dizer que queremos colocar esse material no ar o mais rapidamente possível. Mas é preciso respeitar as etapas para que o resultado saia como esperamos. Na primeira gravação da história da banda, fizemos tudo sem ensaiar, eu conheci o Emiliano (bateria) no estúdio, na sessão de gravação. Hoje, mesmo com a ansiedade de colocar essas músicas na rua, desaceleramos um pouco e estamos fazendo tudo com calma.

Cada detalhe está sendo analisado minuciosamente para que consigamos passar o sentimento que essas músicas causam na gente. Posso adiantar que essa forma de trabalhar tem contribuído muito para os resultados que obtivemos até então. Estamos gostando muito de como tudo tá andando.



O Angvstia é uma banda que está em constante produção. Desde 2020, vocês lançaram diversos singles, no ano passado lançaram o álbum Lacuna, e agora já prepara o lançamento de dois singles. Pra banda qual é a importância de estar sempre gravando e lançando material?


Desde o começo da banda, sentimos essa necessidade de estar em constante renovação, seja de ideias, seja de sonoridade. Cada lançamento reflete um momento da banda e nos faz ter mais maturidade para seguir produzindo e imprimindo ainda mais nossa identidade à proposta da banda. As novas músicas vêm naturalmente, estamos sempre tocando juntos e, quando surge uma ideia nova, trabalhamos nela. É natural, sem forçar nada. 


Além disso, em termos de mensagem, há sempre o que falar, algum tema ou mazela sobre o qual refletir. Produzir novas músicas é nossa forma de dialogar com essas questões e, principalmente, com as pessoas. Não há algo pré-definido sobre quando produzir ou não alguma coisa, nós simplesmente sentimos a necessidade de explorar influências e sonoridades novas, e saímos tocando. Somos uma banda nova, com poucos anos de trajetória, mas nesse momento sentimos que é o ponto no qual estamos mais musicalmente entrosados. E não há forma melhor de expressar isso do que trabalhando em novos materiais.



É possível ter mais músicas novas do Angvstia ou, até mesmo, um novo disco em breve?


Como estamos sempre produzindo, há sempre a possibilidade de ter mais músicas novas em breve. Quanto a um novo disco, com certeza está nos planos, mas não queremos atropelar o Lacuna, que ainda é um registro bem recente, lançado há pouco menos de um ano. Esses singles vão servir como uma transição para um novo momento, uma nova sonoridade. 


As ideias são muitas. Temos muitas composições em andamento, algumas coisas em estado mais avançado, outras ainda por estruturar, mas o bonde tá andando, e bem. As influências e objetivos mudam com o tempo e queremos curtir esse processo de mudança até, finalmente, lançar um disco novo. Fases de transição, descobertas de novas sonoridades, normalmente são um processo bem legal de se aproveitar enquanto banda. E nesse momento estamos aproveitando. 



Há um ano, o Angvstia lançava o seu primeiro disco, Lacuna, que veio com três videoclipes, e levou a banda a realizar shows importantes, como a abertura dos shows de Ignite e No Fun At All. Como vocês avaliam os frutos colhidos com este trabalho?


Isso é algo que sempre conversamos entre nós. Tem sido muito legal colher esses frutos mesmo com tão pouco tempo de banda. Ter tocado com bandas que ouvimos desde a adolescência, como No Fun At All e Ignite, foi uma experiência única, que vai ficar guardada na nossa mente. Com o Lacuna, pudemos realizar feitos importantes, como tocar em outras cidades, dividir o palco com muita banda legal do underground nacional, e isso com certeza é o fator mais positivo. 


O Lacuna é nosso "primogênito", um trabalho que levou tempo para ser concebido, mas que nos trouxe muita coisa boa. Obviamente foi um trabalho que fizemos com o objetivo de agradar primeiramente a nós mesmos. Tudo que veio depois foi uma grata surpresa. Saber que esse trabalho impactou algumas pessoas da mesma forma que nos impactou é extremamente recompensador. Independente se for um ou um milhão de pessoas, se atinge alguém e causa reflexão, todo o trabalho já valeu a pena. 


Tudo que a gente faz é realizado com muita sinceridade, falamos sobre o que vivemos no nosso dia a dia, e talvez seja por isso que role essa identificação. Tudo que vem depois é consequência disso. 



Banda Angvstia em ação, durante a abertura do show do No Fun At All e Ignite no Vip Station (SP) | Foto: Eric Cravo


A música Sem Perspectiva, do disco Lacuna, ganhou um clipe superproduzido com direção de Daniel Nobre. Como foi idealizado esse clipe e há planos de um dos novos singles terem um videoclipe também?


Sem Perspectiva foi a primeira música da história da Angvstia. Ela tem uma letra muito forte, que traz questionamentos sobre a situação das pessoas abandonadas nas ruas não só de São Paulo, mas do país inteiro. São pessoas com histórias, com trajetórias de vida, que em algum momento simplesmente deixaram de ser enxergadas como seres humanos com direitos, sonhos e sentimentos. Se tornaram invisíveis, se misturaram ao concreto das ruas. 

O Daniel é amigo de longa data do Dave e deu essa ideia de fazermos o clipe da música. A produção foi idealizada pelos dois, com a ajuda do Júnior, e o resultado nos deixou extremamente felizes. Obviamente se trata de uma realidade extremamente negativa, que causa incômodo, mas que ao mesmo tempo mostra que essas pessoas, mesmo sem perspectiva alguma, não param de lutar pela vida. E acho que conseguimos trazer isso muito bem no clipe, mostrando que essas pessoas existem e só precisam de uma chance para se reerguer. 


Ltda. e Sacrifício são músicas com mensagens igualmente fortes e, na nossa perspectiva, é o principal fator que justifica a existência de um videoclipe. Apesar de não termos nada planejado a respeito, acredito que os singles naturalmente ganharão algum tipo de registro audiovisual. Não descartamos nenhuma possibilidade. 



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