Em entrevista exclusiva para o Seguimos Fortes, vocalista comenta possíveis planos da banda para 2024
Por Vinícius Vieira
Anunciado como atração principal no sideshow do Balaclava Fest em São Paulo, nesta segunda-feira (20), a apresentação de reunião do Ludovic já ganhou status de show mais aguardado do ano, considerando todo o contexto envolvido. Formada em 2001, o Ludovic, com a sua junção sonora explosiva que envolvia a urgência do Black Flag, com o lirismo do The Smiths, em letras confessionais sobre relações abusivas, era considerada a banda mais “patinho feio” do cenário independente, repleto de bandas de hardcore melódico e que começava a abrir espaço para emocore. Aos poucos, a banda foi cravando o seu nome na cena underground, conquistando uma legião de fãs e curiosos que se reuniam para assistir as performances verborrágicas do grupo que, na maioria das vezes, terminavam com o vocalista Jair Naves se jogando de modo insano na bateria.
Com o fim do Ludovic em 2006, a banda se reuniu em 2015 para uma série de shows especiais para matar as saudades dos fãs e também para aguçar a curiosidade daqueles que não tinham idade e não puderam acompanhar o grupo no seu auge. Dessa vez, oito anos após o último retorno, Jair Naves (voz e baixo), Zeek Underwood (guitarra), Eduardo “Apeles” Praça (guitarra) e Rodrigo Montorso (bateria) se apresentam em um show único, em meio a véspera dos 20 anos de lançamento de Servil (2004), o primeiro disco do grupo, que será lançado em vinil pela Balaclava Records.
Em meio a correria dos ensaios e da preparação do show, o vocalista Jair Naves bateu um papo com o Seguimos Fortes, dando detalhes sobre a apresentação de hoje, que terá as participações especiais de Felipe Aguiar (Transgordura) e do baixista Fernando Sanches (O Inimigo, CPM 22 e Hateen), e também falando sobre os possíveis próximos passos da banda.
Como surgiu a ideia de reunir o Ludovic para este show?
Há tempos vínhamos pensando em fazer algo para comemorar os 20 anos do lançamento do Servil. Sou muito apegado a datas, e essa tem um simbolismo ainda maior do que qualquer outra. Foi o primeiro álbum lançado com composições minhas, algo que realmente me parecia meio inimaginável quando eu comecei a me interessar por música, ainda criança. Duas décadas é tempo demais. Constatar que já faço isso há todos esses anos me faz pensar em muita coisa. Será que eu já disse tudo que tinha para dizer musicalmente? Quais são os caminhos a se explorar para manter essa atividade empolgante artisticamente? Onde eu posso me aprimorar, o que eu devo aprender e estudar? Será que existem outras formas de expressão artística em que eu poderia me aventurar e obter resultados tão ou mais animadores?
Minha ideia inicial era fazer esse show em 2024. Porém, surgiu o convite dos nossos parceiros da Balaclava, até para ver como seria esse encontro, se o clima seria bom o bastante para fazer mais coisas no ano que vem. Pareceu uma comemoração antecipada das mais bem-vindas, até por uma questão de compatibilidade com as agendas de todos. Pretendo gravar meu novo disco solo no primeiro semestre de 2024, é a minha prioridade, então vai ser uma boa forma de celebrar o passado antes de voltar minhas atenções totais para o que o futuro me reserva.
Há 19 anos, o Ludovic era encarado como o "patinho feio" do cenário independente, com músicas e apresentações viscerais, indo completamente na contramão do que se tinha na cena naquela época. Hoje, quase duas décadas depois, a banda é aclamada por uma geração de fãs, quase esgotando os ingressos do show de reunião. Como você analisa essa boa aceitação e devoção que o Ludovic ganhou com o passar dos anos?
Parte de mim se surpreende bastante, para ser bem honesto. Foi muito difícil cavar um espacinho para a gente no começo, estávamos muito fora dos padrões vigentes na época em que começamos. Mesmo na época da demo, em 2001, o fato de cantarmos em português era recebido com certa estranheza. Quando saiu o primeiro disco, em 2004, pouca gente se conectou com aquilo de primeira. Mesmo aqueles que vieram a se tornar seguidores fiéis do que fazemos contam o quanto acharam ruim o que estávamos fazendo quando ouviram pela primeira vez.
Sinceramente, nunca foi algo que me causasse muita preocupação, especialmente nos primeiros anos. Claro que eu cresci, me tornei outra pessoa e muitas coisas de quem eu era ou como eu pensava há vinte anos se perderam. Mas a minha recordação sempre foi a de estar fazendo exatamente o que eu queria, tirando o melhor das minhas limitações e me entregando de uma forma tão completa e apaixonada que nem seria possível questionar o que estava acontecendo ali.
Ainda assim, da mesma forma que eu disse no começo que parte de mim se surpreende, também tem uma sensação de que faz muito sentido. Sempre foi muito real, meio desavergonhadamente verdadeiro, para o bem e para o mal. Eu sei que as pessoas valorizam isso, porque é justamente o que me atrai na maior parte dos meus artistas preferidos. Além disso, com toda a implacável e torturante autocrítica com que eu encaro o que eu produzo, acho que é um material bom, que envelheceu bem. Revisitando e redescobrindo essas músicas, me dá um orgulho meio carinhoso dessas músicas que eu escrevi quando tinha 18, 20, 22 anos.
Falando sobre o show de hoje, além da participação especial do Felipe Aguiar do Transgordura, também teremos a participação do baixista Fernando Sanches, que inclusive assumiu o baixo em algumas canções nos shows de reunião da banda em 2017. A participação dele dessa vez será maior?
O Fernando é uma lenda do cenário independente brasileiro. Poucas pessoas têm um currículo de serviços prestados à nossa música subterrânea tão extenso e respeitável. O simples fato de que ele aceita subir num palco com a gente é algo que me enche de orgulho. Ele vai tocar cinco músicas conosco - até porque eu não quero abusar da sua boa vontade e pedir pra ele tirar o repertório inteiro.
Você anunciou que após esse show, você vai focar nas gravações do seu novo álbum solo, porém, em 2024 o Servil completa 20 anos de lançamento. Há possibilidades dessa data ser comemorada com mais um show de reunião e uma possível tour?
Existe sim, mas eu prefiro ser cauteloso. Temos todos outros planos para o ano que vem, outros projetos musicais ou não, outros trabalhos, enfim… vamos sentir como será esse show, como a dinâmica entre a gente funcionará depois de todos esses anos. Na pior das hipóteses, caso a gente perceba que é realmente algo do passado e que lá deve ficar, será uma despedida bonita, uma cerimônia de agradecimento a um marco na minha história, algo que verdadeiramente mudou os rumos da minha vida e de que eu sempre vou lembrar com enorme carinho.
O Ludovic se apresenta hoje (20) no sideshow do Balaclava Fest ao lado dos norte-americanos do Thus Love na Casa Rockambole, em São Paulo. Os últimos ingressos estão disponíveis neste link.
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