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PAPO DE BANDA - LETTY - T1 E5

por Flávio Almeida

Buenas rapeize!! Chegamos aqui na metade da primeira temporada do Papo de Banda e, que legal tem sido poder escrever e colaborar com o Seguimos Fortes, além de trocar uma ideia firmeza com as pessoas entrevistadas! Dessa vez bati um papo com a Letty, uma artista sensacional que atualmente está baseada em Jundiaí-SP e faz um trabalho musical bem foda, criativo, dedo na cara e com uma estética muito massa! Confere aqui o bate papo e seguimos fuertes!

FAlmeida - Letty, primeiramente é um grande prazer poder fazer essa entrevista com você! Eu não conhecia o seu trabalho junto com o da banda até o show do Haules - Jundiaí (lançamento do EP da Astronova em Abril de 2019). Então para começarmos aqui, quem é Letty (banda e pessoa), como começou, onde e quando?

LETTY - Eu que agradeço pelo convite, é um prazer! A Letty está aí desde que nasci mas só fui resgatá-la aos meus dezoito anos de idade, quando me assumi compositora. Antes eu já havia saído do armário como cantora e guitarrista, mas assumir as próprias criações é sempre um processo mais difícil. Comecei a fazer barzinho com 16 anos na cidade onde morava, Itapira, e depois de um período de mudanças bruscas na minha vida surgiu meu primeiro EP, Anywhere But Here (2015).

FAlmeida - Letty: mulher, música alternativa, um país machista, um cenário político totalmente imundo e um montão de coisas que é preciso falar para todos. Temos sempre o microfone como uma arma poderosíssima, mas mesmo assim, muitas bandas não se posicionam ou simplesmente não entenderam nada. Qual a sua opinião sobre isso e o quanto te influencia como artista, musical e esteticamente?

LETTY - Essa ideia de "não misturar música com política" é bem torta. Porque pra mim são coisas inseparáveis, intrínsecas, na minha realidade não existe essa diferenciação. A arte é uma maneira genuína e acessível de se fazer política e, em tempos como esse, nós precisamos -- ainda mais do que se posicionar -- marcar nosso território, ocupar espaços, alcançar as pessoas. Já estamos perdendo essa batalha há muito tempo pras igrejas, principalmente. É hora de usar a arte a nosso favor.

FAlmeida - Eu particularmente acho incrível vocais femininos de uma forma geral, seja gutural ou com a sutilidade que só uma mulher consegue impor, tanto que no disco da Facing Death temos uma participação de uma grande amiga (Dannie Danz). É fundamental a mulher se posicionar e para mim, se for com a música, é emocionante! Você acha que as mulheres têm um espaço legal no cenário musical independente, mais especificamente, no rock-alternativo?

LETTY - Eu acho que nós não temos um espaço legal em lugar algum. Estamos no país que teve um aumento de 44% nas taxas de feminicídio no primeiro semestre. Isso pode soar um tanto pessimista, mas é porque eu não sou do tipo que se contenta com migalhas. O mercado musical tá no hype das pautas identitárias, então os holofotes estão começando a se voltar pras mulheres, mas é de uma maneira perigosa, liberal e interesseira. É perigoso comprar esses discursos e sair apoiando essas empresas com esses discursos vazios. Por outro lado, no meu caso, na realidade da música independente, me vejo cercada de mulheres incríveis que criam coisas maravilhosas e que estão se engajando de verdade. E o mais legal é que como é um universo de muitos perrengues, muitas vezes as barreiras de gênero musical acabam caindo, então acabo tocando no mesmo fest que uma banda de hardcore e uma rapper se apresentam - como foi o caso do Matapacos Fest que rolou em São Paulo no último fim de semana de novembro. É muito enriquecedor.

FAlmeida - É muito gratificante para a Facing Death poder dividir o palco com diferentes tipos de bandas, cantores e cantoras, pois isso têm nos engrandecido como pessoa. Como tem sido cair na estrada com a banda e o que isso significa para vocês?

LETTY - É um pouco do que disse ali em cima. Ver as pessoas se juntando pra fazer festivais e todos os tipos de eventos me dá um quentinho no peito. A experiência de conhecer artistas de outros gêneros musicais é incrível, pois me coloca em contato com outras realidades e desafia os meus ouvidos. Eu gosto disso no underground porque são desses perrengues que saem essas ideias malucas de unir todas as tribos (que nem o Norvana!).

FAlmeida - O primeiro registro como Letty é de 2015 e de lá para cá são 3 EP’s e 1 single (estou certo??). Vocês tem planos de lançar um full inédito? Nos conte um pouco, de uma forma resumida, o planejamento até aqui e para um futuro breve.

LETTY - É difícil falar em planejamento e, principalmente, em futuro hahaha. Tudo o que lancei até agora foi meio na base do susto, eu tenho essa péssima mania de 'ops, criei uma música, bora lançar logo' e peco em planejamento, sim! Aliás, essa é a minha maior meta pra 2020: ser mais organizada pra não atravessar as coisas. Mas tenho um single inédito que vai sair em parceria com os queridos da Loyal Gun (bandaça, aliás). Ainda estamos em fase de experimentar como vai ser, mas posso adiantar que é uma música em português! Dependendo de como for, lançaremos no começo do ano!

FAlmeida - O primeiro disco da Facing Death é cantado em inglês e, nós percebemos com a tour desse álbum que enfrentamos uma barreira proveniente do idioma. Sempre tivemos que explicar o disco, as letras e a estética. A Letty tem 3 EP’s em inglês e apenas um single em português, um trajetória bem parecida com a da Facing Death. Vou fazer uma pergunta que às vezes eu não gosto de responder (rsrsrs). Porque inglês e se podemos esperar mais composições em português?

LETTY - Outro dia eu estava conversando sobre essa dificuldade enorme de compor em português com a Deb, vocalista da Deb and the Mentals, porque eles estão lançando músicas bem interessantes em português. Acho que é uma barreira pra todo mundo, afinal a gente cresceu ouvindo música em inglês e isso acaba influenciando. Eu digo que me sinto mais confortável me expressando em inglês, mas isso é balela, não tem como se sentir mais confortável numa língua que não é a sua. O lance mesmo é a vergonha: a gente se sente muito mais exposta cantando em português, porque todo mundo vai te entender e perceber que você só sabe rimar amor com dor hahahaha. Mas é um processo de se desapegar dessa ideia. Entrar em contato com a nossa língua materna é uma experiência necessária e rica. Fora que português é muito mais legal, né? Tem mil jeitos de dizer a mesma coisa. Precisamos, urgentemente, valorizar mais o que é nosso.

FAlmeida - De uma forma geral Letty, nos conte em forma de linha do tempo, as histórias e as inspirações para os seus registros musicais até aqui.

LETTY - Posso dizer que sempre amei música, desde que nasci. Tem fotos minhas de quando era muito pequena cantando no karaokê e coisas do tipo hahaha. Mas comecei a me interessar mesmo quando tinha 11 anos. Aprendi a tocar violão sozinha porque queria compor minhas próprias músicas. E nesse processo de descoberta vieram as outras artes, a literatura... O cânone, né. Ser uma artista autoral independente me fez desconstruir o conceito de "artista" que habita o imaginário -- aquela pessoa que toma vinho no café da manhã e recebe uma iluminação divina pra escrever um texto. Hoje eu me vejo muito mais fã dos meus amigos e colegas da música do que dos grandes, por exemplo. Fico muito mais empolgada pra ir num show de uma amiga do que em um festival descoladão grande. Mas não pude deixar de ir no Popload pra ver a Patti Smith e o Jack White (com o Racounters), porque eles são as minhas maiores inspirações da vida!

FAlmeida - Nos conte um pouco sobre o dia a dia da banda. Ensaios, planejamento logístico e financeiro e o que mais você quiser dividir conosco!

LETTY - Pois bem, como eu disse antes, meu planejamento é péssimo. Eu sou uma artista solo então tudo sobra pra mim -- isso é uma coisa bem patriarcal, essa sobrecarga que se apresenta em todos os âmbitos da vida das mulheres. Estou aprendendo agora que lançar um álbum no fim do ano sem muito alarde (como aconteceu com The Rolling Stones Were Always Wrong) é um tiro no pé, em janeiro do próximo ano o trabalho já está velho. Mas ao mesmo tempo eu penso: pra quem eu quero fazer alarde? Minha música vai chegar em quem tem que chegar, independente de algoritmo e de plays no Spotify. Não faz parte do meu planejamento ficar dando tapinha nas costas de cara influente pra conseguir qualquer coisa. No fundo acho que não sou bagunçada, meu trabalho só tem um timing diferente do tic tac capitalista.

FAlmeida - Como é a preparação musical de vocês para uma gravação, um show ou mesmo na hora de compor. Costumam estudar de alguma forma, música e arte?

LETTY - As composições são sempre minhas, então eu já chego no ensaio com a música pronta e sabendo o que quero. Dentro disso, deixo a banda livre pra colocar a sua identidade nos instrumentos. É um processo legal porque vejo minha música se expandindo sem perder a minha cara. Eu, particularmente, não estudo música. Você nunca vai me ver tocando uma escala no metrônomo; desse estudo tradicional eu passo longe! Mas como uso e faço música pra tudo, de repente vejo minhas composições parecidas com as da artista que tenho ouvido bastante... E isso também é uma forma de estudar. A minha prática de estudo é descobrir bandas novas, autoras novas pra me inspirar.

FAlmeida - Bom, mais uma vez gostaria de agradecer a sua disponibilidade em participar dessa primeira temporada do papo de banda! Eu espero que possamos dividir o palco mais vezes e queria registrar aqui que gosto bastante do seu trabalho e que conheci na estrada, depois que tocamos juntos! Deixe aqui o seu recado para os leitores o para fechar com chave de ouro, nos conte as suas motivações, aquilo que te abastece para continuar fazendo arte?

LETTY - Eu que agradeço! É sempre bom ter essas conversas! Gosto muito do Facing Death desde que vi o primeiro show, então espero que a gente divida o palco muito em breve! Pra você que tá lendo, só repito o mantra que tenho falado pra mim mesma quando penso em desistir: continue fazendo o que o Bolsonaro odeia! <3

FAlmeida - eu só posso dizer uma coisa: se você ainda não conhece o trabalho da Letty, corre para conhecer e acompanhar porque ela é uma artista incrível, a banda é muito coesa e as canções são sensacionais! A estética do trabalho dela também me chama muito a atenção, é demais! Eu gosto bastante do tipo de som que a LETTY faz e confesso que fiquei com bastante dificuldade para indicar aqui as canções porque tive que escolher apenas duas, mas vamos lá!

A primeira que indico é a sensacional It's not Over do EP (pra mim é um disco!) Anywhere But Here de 2015. A linha melódica dessa música é sensacional! Toda a vez que ouço tenho a sensação de que já ouvi essa música e ao mesmo tempo sinto um ar de novidade, bom essa é a mágica que a música consegue fazer com as pessoas, trazer sentimentos unicos!

A segunda música que indico é Alright do The Rolling Stones Were Always Wrong de 2018. O riff e a dinâmica dessa música me remete a bandas dos anos 80 e 90 que gosto bastante! Vale também ser mencionado a forma estrutural da música, Intro, estrofe, ponte e refrão cheio com muita melodia! E para fechar, a letra é muito boa, tem um ar de se colocar e ficar de pé, temas que me acompanham desde a adolescência, obviamente entendendo como cada um deve se identificar com a arte que consome!

A gente se vê em breve, CIAO!



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