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SOBREVIVENDO À QUARENTENA: DAN SOUZA E FE UEHARA (TOTH)

por Robson Assis


Existem mil formas de se reinventar. Esteja você falando de uma banda, de uma gravadora, um selo ou de um estúdio. E durante todos esses meses de pandemia, quarentena e um lockdown meio confuso pra toda a população, tem sido fácil distinguir quem está buscando alternativas inteligentes pra manter seus projetos ativos.


Por isso, a conversa de hoje na série Sobrevivendo à Quarentena é com Dan Souza e Fernando Uehara, do estúdio TOTH, de Guarulhos, um espaço voltado para a gravação que com o passar dos anos ganhou muita notoriedade por conta da qualidade das gravações, inclusive do Bullet Bane, banda na qual ambos tocam.


Trocamos uma ideia com eles sobre o impacto da pandemia e do lockdown para o estúdio e sobre as formas que eles encontraram pra continuar trabalhando de forma consistente para bandas e compartilhar o conhecimento adquirido com os anos de experiência, mesmo à distância. Se liga nesse papo:



SEGUIMOS FORTES: Como vocês lidaram com esses primeiros meses dessa pandemia em relação ao trabalho no estúdio, às pessoas que j´não podiam sair mais de casa e tal? O que mudou pra vocês direta ou indiretamente no trabalho em si?


DAN SOUZA: Bom, o começo da pandemia pra gente pegou de surpresa, acho que não só pra gente mas pra todo mundo né. Porém na época, a gente tava com bastante trabalho e tinha bastante coisa de pós-produção ainda pra fazer, trabalhos que estavam sendo feitos e que tinham acabados de ser finalizados também nessa parte de captação. Então, em março e abril, a gente fez bastante coisa do que a gente já tava finalizando, fazendo mixagem e masterização. E a gente conseguiu ainda, mesmo não podendo abrir o estúdio, continuar na ativa e conseguir trabalhar né. Mesmo com a alma do lance que é a gravação e tal, a gente conseguiu se virar e manter, pelo menos, um fluxo de trabalho legal.


Depois, nos outros meses, foi esgotando um pouco né. Todo mundo que já tinha gravado antes da pandemia já tinha finalizado o trabalho e ninguém tava fazendo trabalho novo por conta do lockdown. Então a gente começou a fazer bastante trabalho de pré-produção, preparando as bandas lá pra frente, para um momento pós-pandemia, quando elas vão poder entrar em estúdio. Então foi bem legal porque a gente conseguiu pegar uns projetos tipo a banda chegar com a música do zero e a gente poder trabalhar nisso juntos e sem pressa né, porque as bandas desapegaram um pouco também da ansiedade de querer gravar e lançar logo e tudo mais.


Então a galera ficou mais pé no chão, um pouco mais tranquila e deu pra gente trabalhar bem essa parte da pré-produção. Foi também um serviço do estúdio que antes a gente fazia pouco e que na pandemia a gente acabou fazendo mais. Mas acho que o carro chefe com certeza foi a mixagem e masterização à distância, que a gente fez bastante coisa e que não deixou o negócio parar.


SEGUIMOS FORTES: Nesse tempo deu pra pensar em projetos, estratégias de como manter o estúdio, como sobreviver a essa quarentena, mesmo com pouco contato e com essa distância toda da galera, dos clientes e tal?


DAN SOUZA: Então, foi um pouco do que falei na resposta anterior. Mas a gente viu que o lance da pré-produção era um serviço legal que as bandas estavam buscando e que tava encaixando no momento. Porque a gente consegue fazer totalmente à distância e consegue trabalhar as músicas com mais calma junto com a banda e preparar tudo para o momento da gravação. Então foi uma parada legal que antigamente rolava, mas que agora está mais forte.


E a parte de mixagem e masterização foi muito legal também à distância, porque a gente pôde trabalhar com bandas que eram de outros estados, então a gente mixou trabalho do RJ, da Paraíba, de Curitiba, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina. A gente trabalhou com bandas praticamente do Brasil todo, de todas as regiões, mesmo em um período que a gente estava ali com o estúdio fechado né.


Como eu e o Fe podemos trabalhar de casa (a gente tem uma estação de trabalho cada um na sua casa), a gente consegue realizar o trabalho com a mesma qualidade como se a gente tivesse fazendo dentro do estúdio. Então isso facilitou muito. Foi um investimento que a gente fez lá atrás pra poder rolar e que salvou a gente nesse período.


SEGUIMOS FORTES: Vocês começaram uns tempos atrás com as Brutal Sessions. Tem planejamentos pra voltar, ou material ainda pra sair, conta um pouco desse formato e se ainda deve rolar mesmo com as restrições impostas pela quarentena.


DAN SOUZA: O Brutal Sessions foi um projeto que saiu do papel. Ele já existia há anos. A gente sempre foi muito próximo da Brutal Kill, por causa do Bullet Bane e sempre existiu essa ideia, essa vontade da marca e da gente. E, ano passado, acho que foi o ano certo pra gente poder fazer isso. Foi legal demais porque a gente pôde receber bandas que a gente talvez não receberia no nosso estúdio e também conseguiu gerar um conteúdo bacana pro YouTube do estúdio que é uma parada que a gente ainda não tinha começado a trabalhar. Então em praticamente um ano de projeto agora, mesmo ele estando seis meses parado (o último lançamento foi em janeiro, se eu não me engano, que foi o John Wayne, que a gente gravou no final do ano passado), o canal já tá com mais de 200 mil visualizações somando todas as bandas que colaram lá. E por ser um projeto de música ao vivo com o lance da entrevista é um número bem legal né, contando que a gente tem o apoio da marca, da divulgação, do projeto e tudo mais, mas também faz dentro de todas as limitações que tem hoje em dia nessas ferramentas de mídias sociais e tudo mais.


Então dá pra ver que é um serviço que a galera quer muito ver, consome bastante, mas é trabalhoso fazer, exige bastante pessoas, bastante trabalho pra ficar bom. O projeto tá parado. Esse ano a gente não conseguiu gravar nenhuma banda por conta da pandemia, porém a gente espera conseguir voltar em breve. Ainda tá meio complicado porque já é difícil alinhar a agenda tanto da Brutal, quanto do estúdio, quanto das bandas (esse acho que é o maior desafio do projeto) e agora com a pandemia só ficou mais difícil e mais limitado. Então, por enquanto, tá no gelo, mas a gente espera sim poder voltar a fazer os novos episódios e trazer a música ao vivo pra galera com qualidade.





SEGUIMOS FORTES: Eu vi que rolaram umas lives de perguntas e respostas sobre produção no Instagram do estúdio, conta um pouco do que rolou e a importância de manter contato com a galera, mesmo que à distância.


FERNANDO UEHARA: Essa questão das lives a gente vê que tomou muita força depois dessa parada que aconteceu da pandemia. A gente vê que muitos profissionais estão usando isso como uma ferramenta pra poder divulgar seus trabalhos e o seu conhecimento de uma forma que não atrapalhe a questão do distanciamento social. Então as pessoas também acabam ficando mais em casa e tem mais acesso a um conteúdo relevante.


Pra gente também tá sendo bem interessante porque a gente consegue compartilhar com a galera um pouco do conhecimento que a gente obteve durante todos esses anos. É algo que realmente é muito difícil o acesso. Apesar de ter muito conteúdo na internet, tem tanta coisa ali que às vezes as pessoas perguntam coisas básicas que elas não sabem justamente por ficar perdido ali no direcionamento e tudo mais. Vou dar um exemplo aqui: coisas como o processo de uma música. Como que ela é criada? Depois qual que é o processo seguinte? Vai existir a produção, a pré-produção e aí vai vir uma gravação onde você define timbres e tudo mais. Aí depois você vai fazer a mixagem. Por exemplo, tem muitas pessoas que nem sabem o que é uma mixagem, né, a masterização em si também. Até chegar o momento de você escolher a mídia que você vai fazer a divulgação dessa música, desse álbum.


Essas são algumas questões que a gente aborda ali, justamente pra tirar essas dúvidas das pessoas. A gente vê que tem muita gente que pergunta esse tipo de coisa e a gente acha bem legal porque a gente sana muitas dessas dúvidas. Porque às vezes a pessoa fica procurando ali e vê milhares de respostas e cada uma fala uma coisa, sabe? Claro que cada produtor, cada estúdio vai trabalhar de uma forma, mas a gente tenta expor por ali um pouco do nosso lado e da forma que a gente trabalha.


Fora isso, a gente tenta passar um pouco da nossa trajetória, como que a gente iniciou na carreira como produtor musical, como que a gente fez pra começar isso e tudo mais. Quais os equipamentos que a gente usou, são algumas das coisas que a gente aborda ali nessas lives, né. O último ponto que eu gostaria de falar, que a gente comenta bastante sobre nas lives também é a questão de como a música se desenvolveu e como as mídias foram mudando ao longo dos anos. Se você parar pra pensar, de dez anos pra cá mudou demais a forma de você divulgar uma música, apesar da música em si, a arte, ser ainda uma coisa concreta, que você faz e ela vai ficar eternamente aí, as mídias mudaram demais desde os anos 1960, 1970, 1980, cada época teve a sua maneira de divulgação e de abordagem nesse aspecto né. Então é isso, a gente tá tendo um contato bem legal com a galera e pra gente tá sendo bem interessante. A gente pretende manter sempre que possível essas lives pra galera ter esse contato mais direto com a gente.


SEGUIMOS FORTES: Como vocês estão vendo essas reaberturas graduais, já tão funcionando normalmente, voltaram a receber clientes e tudo mais? Qual a percepção de vocês sobre como está sendo essa reabertura, esse primeiro momento de contato com a galera das bandas.


FERNANDO UEHARA: O Dan comentou que a gente ficou alguns meses sem abrir o estúdio né e, apesar de ainda não estar 100%, a gente voltou a trabalhar quando a gente sentiu uma melhora. Claro que com todos os cuidados e precauções: de tempos em tempos a gente toma um ar lá fora, a gente sempre conversa com a galera pra todo mundo ficar de máscara, pra tomar os cuidados né, todo mundo com álcool em gel e tudo mais. Então todas essas medidas que estão a nosso alcance a gente tá fazendo. Inclusive até fazendo as sessões de porta aberta pra ter a circulação do ar e tudo mais.


Mas apesar de tudo, a gente acabou desenvolvendo novas formas de trabalhar: uma delas é a pré-produção à distância que a gente vai inclusive manter depois que tudo isso passar porque é uma forma que a gente viu que é muito mais eficaz de fazer uma pré-produção, principalmente pra bandas que não são de São Paulo. A gente tá fazendo com a galera de Fortaleza, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e de vários outros lugares, entendeu? Então você consegue trabalhar de uma forma que é mais tranquilo pra galera da banda, que a banda tem uma certa facilidade. Então ela pode fazer ao longo de algum tempo: a gente pede as coisas, a pessoa tem ali dois ou três dias pra dar uma ensaiada antes de mandar pra gente uma versão da voz, por exemplo, ou a versão tocando no click. É um trabalho que a gente conseguiu desenvolver, tá sendo bem legal e fazendo com que as pessoas também aumentem o nível delas musicalmente falando. O critério delas melhora, o ouvido e tudo mais.


Fora isso, a gente também desenvolveu trabalho de trilhas que tá sendo bem interessante, a gente também tá conseguindo divulgar nosso trabalho para um outro nicho que normalmente a gente não fazia, sempre trabalhamos com bandas e artistas voltados pra música e estamos começando a trabalhar também com uma galera de empresas, de vídeo e tudo mais. Mas é isso, essa reabertura tá sendo com muita cautela e sempre com muito cuidado pra que a gente consiga voltar a fazer as produções, pra galera também poder gerar conteúdo pra poder voltar a lançar os materiais das bandas e dos artistas.


SEGUIMOS FORTES: Deixa uma mensagem pra galera das bandas que tem interesse em gravar ou produzir material com vocês.


FERNANDO UEHARA: Gostaria de agradecer vocês pelo espaço! A gente fica muito feliz de poder ter feito essa entrevista com vocês e falar um pouco de como a gente tá lidando com esse momento. Com certeza tá sendo um momento bem complicado pra todo mundo, mas a gente vai sair dessa, né não?! Pra todo mundo que quer saber um pouco mais sobre o estúdio, sobre a nossa carreira como produtor musical ou quiser mandar material pra gente ouvir e conversar com a gente sobre algum projeto é só entrar na nossa página estudiototh.com, no Instagram também @estudiototh e nessa plataforma vocês vão ter o link pra todos os outros: YouTube, Facebook, nosso portfólio e tudo mais, tá certo? Um grande abraço. Tamo junto!



 


SERVIÇO

Estúdio TOTH

Instagram: @estudiototh

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