por Galiego Edge
Foto: Dan Janis
Eles pedem desculpas por tudo, mas nunca aprendem com os próprios erros. Também não aprendem nada com os acertos. É aquilo, faz parte. Sendo assim, podemos dizer que a Sorry For All é aquele tipo de banda que sabe utilizar toda a subversão do Rock n’ Roll ao seu favor.
Formado em 2013, em Socorro-SP, o power trio, formado por Gordela (vocal e guitarra), Marcelixo (vocal e baixo) e Hironha (bateria), coloca o ouvinte em uma paranoia sonora carregada de Punk Rock, bom humor, ironia e muitas drogas.
O último trabalho lançado pela Sorry For All, Drogas, Drogas e Rock n´ Roll (out/2019), foi muito aclamado pela galera que compõe o cenário musical independente do interior de São Paulo. O álbum conta com verdadeiros clássicos da balburdia como, “Sad But Chapped”, “Nóia Também Ama” e “Funk Always Win”.
Troquei uma ideia bacana com o Hironha para avaliar se a Sorry for All merece o meu perdão.
Seguimos Fortes – A Sorry For All é de uma região um pouco “esquecida”, digamos assim, quando se trata de Hardcore ou Punk Rock. Porém, ao conhecer o cenário musical de Socorro, Bragança Paulista, Atibaia e região, fica evidente que há uma movimentação muito cativante, bem organizada e com boas bandas. O que a Sorry For All faz para atuar de forma plena em um cenário distante do foco?
Hironha - Salve, galera! É um prazer estar contando histórias por aqui. Valeu pelo convite! Bacana você falar de uma região esquecida, pois é muito difícil fazer as coisas rolarem. É como um deserto cultural mesmo, as pessoas e as bandas que fazem acontecer por aqui. São uns doidos estilo Mad Max, dando um jeito de sobreviver em um local escasso de recursos culturais.
O lado bom é que quem permanece na ativa cria uma carcaça de proteção, então junta uma ou duas bandas de algumas cidades do Circuito das Águas e da região bragantina, e temos, sei lá, umas oito ou nove bandas tocando nas cidades. O que era para ser um inferno acaba sendo uma benção.
Se você montar uma banda na região e gravar umas músicas, você já tem uns quatro ou cinco shows para testar. É massa demais. Para quem quiser conhecer mais bandas da nossa região, procurem a coletânea Esquadrão da Roça Vol. I.
Foto: Vitória Garcia
Seguimos Fortes – A musicalidade de vocês é muito curiosa. Além das letras ácidas e sarcásticas sobre farras, bebedeiras e situações hilárias, a sonoridade de vocês vai além do Punk Rock/Hardcore, gêneros nos quais vocês se enquadram. Em algumas canções, é perceptível alguns flertes com Hard Rock, Heavy Metal e até Rock n’ Roll clássico. Isso tudo é sarcasmo ou influência? Ou as duas coisas?
Hironha - Com certeza, as duas coisas! (risos) Nos ensaios, a gente sempre ficava zoando os clichês do metal, aí na hora que você vê, tá gostando e colocando nas suas músicas. O lance do rock 'n roll, por exemplo, acho que veio dos Ramones, Richard Hell, dos caras curtirem os primeiros rocks.
Você ouve Little Richard e percebe que é a mesma energia do Iggy Pop. No último disco, descobrimos que a gente pode tocar qualquer ritmo musical, até Funk. Colocar uma parte mais porrada que vira hardcore/punk, e pronto temos uma música! Temos planos de destruir a MPB também.
Seguimos Fortes – Do primeiro lançamento da banda, “Too Noia Too Die”, de 2016, até os dias atuais, vocês vivenciaram as mais variadas situações dentro do cenário musical. Com base nessas vivências, vocês acreditam que houve uma evolução na cena independente como um todo?
Hironha - Começamos em 2013, e até gravar o primeiro disco a gente era bem relaxado. Ficávamos meses sem ensaiar. Na primeira tour, um cara saiu da banda, nós éramos quatro. Nosso baterista achou que tinha perdido a caixa da bateria por meses, mas ela estava guardada com o cara do som de um show. Era nesse naipe. Depois do primeiro lançamento começamos a levar mais a sério, tentando marcar shows e era bem difícil. Em 2017, quando lançamos o segundo disco, conseguimos fazer uma tour pela América Latina. Várias bandas brasileiras estavam tocando na Europa.
Voltamos para Brasil, fizemos vários shows com bandas importantes do cenário. Parecia que ia só melhorar, mas foi só piorando. O Real se desvalorizou demais. Os lugares que tocamos no Paraguai, Argentina e Uruguai, metade fechou.
Mesmo assim, ano passado, no lançamento do último disco, conseguimos tocar bastante, principalmente em São Paulo. Dezembro foi o mês do “pobrestar”. Vários shows nos finais de semana, ressaca e nenhum real no bolso. Mas de tanto tocar, estávamos mandando bem. Saudades... queremos tocar!
Seguimos Fortes – Sei que vocês também auxiliam na organização de diversos eventos na região. Além disso, a iniciativa “Abbey Roça” tornou-se muito influente. Explique para os nossos leitores como vocês elaboram as ações. Quais as bandas e personalidades envolvidas nas tomadas de iniciativa?
Hironha - Em 2018, a gente resolveu gravar uma coletânea com algumas bandas da região. Todas as músicas foram gravadas no Abbey Roça, um rancho cheio de tranqueiras e insumos agrícolas do sítio do meu pai.
A gente sempre ensaiou e gravou nossos discos lá. Sempre produzidos e gravados pelo mestre, Rafa Well, praticamente o quarto membro da banda, só não entrou na banda porque não quer. (risos) Aí, acho que o Dito, da Homem Palito, perguntou porque a gente não fazia show lá. Achamos uma boa ideia e começamos convidando o Presto?, bandas da coletânea, e se não fosse a pandemia, estaríamos até hoje fazendo.
O evento acontece uma vez por mês e é organizado pela banda e por quem frequenta o local. As bandas da região sempre dão dicas e ajudam na divulgação. É massa demais ver tanta gente se importando com o role.
Seguimos Fortes – Em outubro de 2019, vocês lançaram o álbum, “Drogas, Drogas e Rock n’ Roll”. Logo que saiu, vi uma galera exaltando, compartilhando nas redes e tudo mais. Como foi o processo criativo do álbum?
Hironha - Achamos que foi o mais chato de gravar e o que ficou mais com a cara da banda. Nos outros, a gente tirava férias e ficava chapando, compondo durante 15 dias e depois gravávamos instrumental e vozes em quatro dias.
Mas nesse, não estávamos na pegada de compor, nem de chapar, então pegamos as músicas que não foram gravadas, que a gente já tocava nos shows, e nos esforçamos para fazer mais algumas.
O importante era que as músicas fossem rápidas, sem muita firula, ou viagens muito longas que tirassem o ritmo do disco. A ideia era ser um Loco Live dos Ramones só que de estúdio.
Seguimos Fortes - Vocês destacam algo diferente em “Drogas, Drogas e Rock n’ Roll” em relação aos trabalhos anteriores?
Hironha - Ele é o mais coeso na forma e no conteúdo. Nos outros, sempre tinha uma ou duas músicas nada a ver. Esse está mais focado no BPM do rock podre.(risos)
Uma coisa massa desse disco, é que ele foi bastante divulgado em sites gringos de hardcore, punk. Isso se refletiu nos plays do bandcamp da banda. A maioria da galera que baixou e ouviu o disco pela plataforma, era de fora, de vários lugares do mundo, foi maneiro.
Seguimos Fortes - A pandemia interrompeu diversos projetos. Quais os planos da Sorry For All que foram afetados por essa situação atípica?
Hironha - Porra, nós estávamos na pilha de lançar um split e um EP, mas como fodeu tudo, a vamos lançar um álbum provavelmente com as músicas que estávamos compondo.
Além disso, a gente decidiu criar um selo, o Abbey Roça para lançar bandas novas e, com o tempo, alguns clássicos do hardcore/punk. Além do rock paulera, pretendemos também lançar umas bandas mais indies, pois tem várias na região.
Seguimos Fortes – No começo da entrevista falamos sobre musicalidade. Agora, gostaria que vocês especificassem as principais influências da banda.
Hironha - Cada um tem seus gostos específicos, mas tem três focos de influência em comum: o Punk Rock 77, clássico, Ramones, The Clash, Richard Hell... Os mestres do punk roça da nossa região, Leptospirose, Sujeito a Lixo e Muzzarelas... E por último, as bandas da Laja Records, Merda, Os Pedrero e Mukeka di Rato.
Seguimos Fortes - Vamos de indicações. Quais livros | documentários | filmes | podcasts | canais | os integrantes da Sorry For All indicam para os nossos leitores?
Hironha - Gostaríamos de indicar os livros: Como A Música Ficou Grátis, de Stephen Witt. Guitarra e Ossos Quebrados, de Quique Brown. O canal de televisão FishTV e no YouTube, vídeos para adestrar cachorros.
Seguimos Fortes – E se quarentena acabasse hoje, e a rotina voltasse ao normal. Quais seriam os planos da Sorry For All?
Hironha - Estaríamos lançando música nova. Aliás, lançamos um som numa coletânea turca bem legal de tributo ao The Cramps.
Faríamos alguns shows e filmaríamos nosso primeiro filme, chamado “Salve-me Quem Puder”.
Estamos aproveitando o momento para escrever o roteiro que está uma mistura de Bill e Ted, Cheech e Chong e Hermes e Renato.
Seguimos Fortes - O espaço é seu.
Hironha - Obrigado pelo espaço e pela correria. A gente que está no underground sabe que espaços como estes são raros, então sempre é bom aproveitar. Viva o Rock´n´Roll. Desculpe qualquer coisa, Sorry For All!
Acompanhe o trabalho da Sorry For All:
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